Nome: A Noite Maldita - As Crônicas do Fim do Mundo
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século
Ano: 2013
Páginas: 664
R$: de graça - biblioteca pública de Garibaldi
Sinopse:
Quando metade dos seres humanos adormece inexplicavelmente, o que surge é um cenário apocalíptico - prédios em chamas, falta de eletricidade e pessoas desesperadas correndo sem rumo pelas ruas. Nada mais funciona como de costume, e os hospitais ficam lotados com vítimas do que parece ser uma terrível epidemia. Porém, tudo piora quando uma parte dos "adormecidos" desperta com uma sede incontrolável de sangue. Inicia-se então uma guerra de proporções nunca antes registradas, entre humanos e vampiros, naquela que, para sempre, seria chamada de A Noite Maldita.
Entre os parágrafos transcrevo a página 401 e 402.
"Quando despertou já tinha avançado a noite. Lá fora ouvia cães ladrando nervosos. O apartamento estava escuro, e o corpo da vizinha, no chão, enrijecido. Precisou empurrá-la com certa força para desvencilhar-se do cadáver. O apartamento agora parecia mais escuro, o que não fazia muito sentido, posto que já era noite quando matou a vizinha. Levantou-se e andou até a janela. A cidade estava apagada. Via clarões difusos a distância. Não conseguia enxergar bem. Focou na escuridão, buscando desvendar os clarões. Algumas sinapses e concatenações depois, seu cérebro voltou com a resposta. Eram os prédios em chamas. Assim como ele, a cidade também estava doente..."
Este é o primeiro livro da segunda parte da saga Vampiro Rei do autor André Vianco - meu autor preferido! Imagine que dá noite pro dia, literalmente, a população mundial se divide em três tipos, os que continuam normais, os que se transformam em vampiros e por último os chamados "adormecidos", esses simplesmente não acordam mais, como todo mundo, foram dormir, mas não acordam, não importa o que façam com eles. Entram num tipo de transe do sono, em coma! O resto das pessoas ficam completamente perdidas diante este novo mundo, afinal, todos são pegos de surpresa na calada da noite. No dia seguinte, metade da população não acorda e a outra acorda normal, como se nada tivesse acontecido, ou acorda com vontades estranhas, raiva sem motivo e um horror a luz do Sol inexplicável.
"... Olhou para o corpo de Miriam, e novamente uma tristeza brutal tomou sua mente. Não entendia como aquele mecanismo em seu corpo funcionava, mas tinha algo de diferente comandando sua visão. Ficara um bom tempo olhando pela janela, tentando vencer a escuridão e entender os clarões que rasgavam o escuro e revelavam o contorno dos prédios ao longe. A noite fechada e a falta de energia seriam um contratempo certo para isso, mas, como tinha desejado enxergar, sua visão tinha como que "acendido" tudo. Podia enxergar tudo ao redor com certa facilidade, sem o mistério velado da penumbra. Não havia o brilho da luz nem muita sombra contrastando com os objetos. Mas podia vê-los em seus contornos e em um bocado de seus detalhes, prodígio que se revelou terrível quando o encanto inicial de olhar para os móveis e quadros se desvaneceu e seus olhos tornaram a se fixar na mulher morta aos seus pés..."
O primeiro livro publicado da saga, Bento, conta a estória 30 anos após a noite maldita. Alguns personagens davam pinceladas de como foram as primeiras noites e sempre tive muita curiosidade pra saber realmente como tinha sido a noite maldita. E foi maravilhoso! Só fez aumentar minha curiosidade sobre esses 30 anos não contados.
No livro A Noite Maldita conhecemos a história de perto de alguns personagens que conhecemos em Bento. Ele nos mostra como foram as primeiras quatro noites e dias a partir da noite maldita. É um livro bem dramático, em alguns momentos fiquei bem emocionada e até chorei. Traz a história das personagens de uma maneira forte e delicada, mesmo dividindo as mais de 600 páginas em vários personagens, ficamos sabendo quase tudo sobre suas vidas e anseios. Tercemos por todos e até pelos que viraram vampiros e se tornaram "maus" da noite pro dia.
"... Ele sabia que ela tinha servido a um propósito. Ela tinha acabado com sua sede, com sua fome, com sua doença e, também, através do seu líquido da vida, tinha lhe dado visão na escuridão e, sobretudo, calma. Agora ele estava bem, estava sereno, lúcido e cheio de energia. Não só estava enxergando melhor, como estava ouvindo melhor, estava pleno de vida emprestada correndo por dentro de seu corpo. Vida roubada. Sentia-se tão bem que nem o inconveniente de ter matado lhe pesava. Teria enlouquecido? Jessé levou as mãos ao rosto. Sempre leu por aí que os psicopatas não sentiam arrependimento algum em matar. Não viam aquilo como um erro. Era isso que o estava apavorando. Ele sentia pena pelo triste fim de dona Miriam. Entendia que ela tinha morrido e que aquilo era para sempre. Entendia que aquilo era um crime, um assassinato frio, ainda que perpetrado no calor de sua agonia e insanidade temporária. Entendia que tinha matado alguém que era para ele como uma mãe..."
O que me chama atenção nos livros do André Vianco e a saga Vampiro Rei não é diferente é que toda a trama se passa no Brasil. A Noite Maldita se passa principalmente em São Paulo e Foz do Iguaçu, um dos personagens principais deste livro trabalha na hidrelétrica de Itaipú. No meu ponto de vista, a pior coisa que acontece na noite fatídica é o blecaute total das comunicações: sem luz elétrica, sem tv, rádio e internet, como o governo entra em contato com a população?
Uma das minhas metas no 40 coisas em 100 dias era pegar um livro na biblioteca pública daqui e este foi o primeiro. São 15 dias de aluguel e não precisei renovar. Comecei a ler uns 5 dias depois de pegá-lo e pra mim, leio muito devagar, mas este livro me pegou de jeito. Por uns dois ou três dias li 100 páginas direto e não queria mais parar de tanto que ele prende a atenção e fiquei muito triste quando terminei, me senti sem chão! Por mim poderia ser um livro sem fim!! Pelo menos ele terá continuação, a princípio pro ano que vem, 2017.
"... O que o intrigava era que não, não se sentia culpado por isso. Ele tinha devorado a mulher. Simples assim. Como se de uma hora para a outra sua mente tivesse adquirido um kit de caça aos semelhantes e estivesse tudo bem com essa nova ideia. Ele era um caçador de gente de agora em diante. Seus dentes não estavam pontudos como presas de um tigre e seus dedos não pareciam tão poderosos nesse momento. Tirando sua palidez e sua pele fria, sentia-se perfeitamente humano, mas sabia, de alguma forma absurda, sabia que poderia "ativar" sua face de assassino. Essa face voltaria cedo ou tarde. Ficou atordoado com a clareza daquele pensamento. Ele tinha se tornado um novo tipo de gente, que matava pessoas para manter-se vivo. Um novo tipo de ser equipado física e mentalmente para quela novíssima situação. Era assustador e atraente ao mesmo tempo."
A unica coisa que não gostei do livro foi a capa. Na verdade ela é linda e tem tudo a ver com o livro. O policial cavalgando pela cidade de São Paulo destruída. Maaaas, como eu disse antes, ele foi lançado em 2013 e em 2010 entreiou The Walking Dead e pra mim ficou muito cópia do personagem principal, que num episódio vai pra cidade de cavalo! Inclusive aquele episódio deu muita agonia hahaha Como disse, achei a escolha ótima por que combinou muito com o livro, mas estávamos ainda muito no clima da série e pareceu cópia. De resto, maravilhoso!!!
Nas minhas resenhas não coloco partes do livro por sempre achar desnecessário, mas com esse senti essa vontade por achar esse trecho muito interessante. Ele descreve como um dos vampiros da trama se percebe nesse novo mundo e achei todas as colocações muito boas! Espero que tenham gostado do trecho e não se preocupem que não tem spoiler nenhum nele! ;] Bom, por enquanto é isso e até a próxima o/
Acompanhe as redes sociais do blog: